quarta-feira, 15 de junho de 2011

A TURMA DO FUNIL – PARTE I

ENTERRANDO TARTARUGA...
Era uma tarde de sol e brisa fresca... Os meninos riam entre si em risos cúmplices, indo e vindo como formigas carpideiras no percurso que separava o quintal de minha casa e o bambuzal no morro ao lado. Nesse ir e vir, volta e meia aparecia um menino na porta da cozinha e dizia à mamãe:
_ Dona Irene, empresta a cavadeira?
E ela, sem perguntar “pra quê”, emprestava a ferramenta.
Pouco depois, outro deles vem e pede, novamente:
_ Dona Irene, empresta a enxada?
Mamãe, mais uma vez empresta e o pirralho some sem explicações.
Assim se repetiu outras tantas vezes e lá se ia cada vez, enxadão, balde, carrinho de mão, picareta,... e mamãe emprestando tudo sem se dar conta de qual o motivo deles precisarem daquilo tudo. E eles trabalhavam e riam entre si lá atrás do bambuzal, entre os pés de café do Sr. Gildo.
Até que em meio aos risos, ouve-se um barulho diferente... Um dos meninos, Marcos, o Tartaruga, chorando um choro abafado e gritando apavorado entre o riso dos demais:
_ Aiiiiiiiii!!!...Socorro! ... Socoooooooooorro!!!... Me tira daquiiiii!!!! Ahhhh... Socorrooooooo!!!
Dona Etelvina, assusta-se ouvindo o pedido de socorro do filho e corre para ver o que estava acontecendo e, eis a grande e inusitada descoberta.
_ Meu Deus! O que vocês fizeram com meu filho? !!!
Qual não foi o susto daquela mãe ao ver o filho ali, enterrado até o pescoço, só com a cabeça fora da terra, vermelho e desesperado.. Nesse momento espirrou moleque pra todo lado, não sobrou um pra contar a história e nem pra desenterrar o Tartaruga. Diante do escândalo de Dona Etelvina, as mães se aglomeraram em volta do menino enterrado, discutindo e esbravejando entre si, cada uma tentando defender seu pestinha e se acusando mutuamente.
Dona Dorinha diz:
_ Agora vou ter que batê no meu filho por causa desses moleque dos infernu...
Mamãe fala:
_ Eu não sabia pra que eles queriam as ferramenta...
Dona Mirtes, por sua vez afirma:
_ Se eu tivesse visto, meu Renatinho não estaria no meio dessa molecada desocupada...
Dona Cici alega:
_ Meus filho num falaro nada... Ai, meu Deus, o Zé num pode sabê disso...
E o coitado do Tartaruga, por sua vez, apenas balbuciava, agora:
_ Socooorro... me tira daquiiiiii! Aiiiii... socooorrr...
Mirinha e minhas irmãs vendo que as mães permaneceriam naquela discussão em defesa de seus pestinhas postos no mundo, começaram a desenterrar o pobre do Tartaruga que já não aguentava mais o peso da terra sobre seu corpo.
E eu olhava de longe aquela cena engraçada e admirava os meninos com uma inveja incontida: “Como eles têm atitude e senso de humor!!!”
(Irene Cristina dos Santos Costa - Nina Costa, 16/06/2011)